domingo, 22 de abril de 2012

Johnny Depp brinda o jornalista bêbado






Sem Johnny Depp, não haveria o filme “Diário de um Jornalista Bêbado”, que estreou no Brasil na última sexta-feira (20/4). Na verdade, sem o ator nem existiria o livro no qual o filme é baseado, afinal foi ele quem convenceu o escritor Hunter S. Thompson a publicar o manuscrito, guardado há anos numa gaveta em sua casa.
Depp é conhecido por ter amigos ilustres como Keith Richards, Marilyn Manson e Brad Pitt, mas sua amizade mais forte era com Thompson, jornalista bêbado e drogado da revista Rolling Stone, que ao enrolar uma reportagem, falando mais sobre si mesmo e do que passava por sua cabeça do que do tema encomendado, inventou o jornalismo gonzo e se tornou um dos símbolos do movimento da contracultura nos anos 1960.
Se nos últimos anos o ator vinha se mantendo afastado do glamour, vivendo um cotidiano idílico no interior da França com a atriz e cantora Vanessa Paradis e seus dois filhos, ele já teve um passado mais rock‘n’roll, encharcado de álcool, drogas e algumas confusões. E este foi o requisito básico para se aproximar de Thompson.
Em 1994, Depp curtia férias em Aspen quando soube que um amigo seu conhecia o escritor, que morava na cidade. Ele implorou para que fossem apresentados. Thompson aceitou e pouco mais tarde entrou na taverna, como naquelas cenas típicas de filme de faroeste, onde só é possível enxergar a silhueta da pessoa em frente à porta. Depp jura que viu faíscas saltarem enquanto o sujeito se aproximou com sua voz rouca e disse: “Olá, meu nome é Hunter”.
Os dois conversaram, beberam, conversaram e beberam mais, e no meio da madrugada eles estavam atirando com uma espingarda em garrafas de gasolina na casa de Thompson, provocando pequenas explosões. “Acho que foi meu rito de passagem com Hunter. Acho que foi meu teste”, relembrou nostálgico o ator, em entrevista recente.
Depp, pelo jeito, foi aprovado e eles viraram amigos inseparáveis, de charutos, uísques e loucuras. “Hunter sentia a necessidade de vaguear. Ele me ligava e dizia: ‘Coronel – que é como ele costumava me chamar –, Coronel Depp, preciso de você em Havana por uma semana’”. O ator sabia o tamanho da insanidade que estaria por vir, mas era impossível recusar.
Em 1997, o “coronel” instalou-se na casa de seu amigo e ídolo para uma importante pesquisa: ele iria interpretar o próprio escritor no filme “Medo e Delírio” (1998), uma adaptação de seu livro, “Medo e Delírio em Las Vegas – Uma Jornada Selvagem ao Coração do Sonho Americano”. Eles estavam na “Sala de Guerra”, o porão da casa de Thompson, fuçando em suas antigas coisas, quando Depp praticamente tropeçou numa caixa de papelão velha, com um manuscrito com título em letras vermelhas: “The Rum Diary”.
Tratava-se de uma ficção baseada nas próprias memórias do escritor, que foi trabalhar em um jornal de Porto Rico nos anos 1960. O texto foi escrito há quase meio século, mas jamais foi publicado. Thompson tinha um certo problema de aceitação e nunca acreditou que foi reconhecido no meio literário. Ele chegou a datilografar o clássico “O Grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgeral, diversas vezes só para conhecer a sensação de ter escrito uma obra-prima.
Quando Depp encontrou o manuscrito, sentou-se com as pernas cruzadas ao lado de Thompson e começou a ler, e ficou inconformado como aquele texto ficara enterrado no porão por décadas. “Você está maluco, Hunter, isso aqui é muito bom! Por que você não publica isso?”, questionou o ator. “Sim, tudo bem, mas acho que devemos fazer um filme. Vamos fazer isso juntos, nós dois”, respondeu o pai do jornalismo gonzo. “Sim, mas vamos publicá-lo primeiro”, Depp retrucou.
O livro foi publicado, mas sua transposição para o cinema foi constantemente adiada, com o ator cada vez mais requisitado em Hollywood, principalmente a partir de 2003, com o estouro de “Piratas do Caribe – A Maldição do Pérola Negra”. Em 2005, no entanto, Hunter sofria cada vez mais dores causadas por um punhado de doenças e suicidou-se sem qualquer aviso, com um tiro na cabeça.
O fato, é claro, chocou Depp. “Você fica o amaldiçoando, pensando: ‘Qual é, cara, pelo menos um último telefone, ou uma brincadeira antes de ter feito”, lamentou o ator, ao jornal Daily Record. Ele ressalta, no entanto, que a morte por suicídio seria a mais coerente para Thompson. “Ele ditou a maneira como viveu e a maneira como morreu”, conformou-se.
Mas Hunter fez, sim, uma última brincadeira antes de estourar os miolos. Seu último desejo era ser cremado e ter suas cinzas disparadas para a estratosfera por um canhão gigante, de 45 metros de altura, com fogos de artifício e ao som de “Mr. Tambourine Man, de Bob Dylan. “Ele sabia que eu era o único suficientemente estúpido e insano para fazer isso acontecer”, brincou o ator, de forma melancólica. “E nos manteve ocupados enquanto não pensávamos na morte de um amigo”.
Depp realmente bancou a extravagante cerimônia de despedida, mas jamais se esqueceu do amigo e diz que ainda sente falta de seus telefonemas às três da manhã, irritado com alguma partida de futebol ou apenas para comentar alguma nova marca de bebida. Mas o ator, de certa forma, já sabia que o espírito de Hunter era tão forte que atormentava outras pessoas até quando o escritor ainda estava vivo.
No primeiro dia de filmagens de “Medo e Delírio”, em 1997, Depp recebeu uma ligação de Bill Murray, que interpretou o alter ego de Thompson em “Uma Espécie em Extinção” (1980). Era um aviso: “Tenha cuidado ao interpretar Hunter, porque ele nunca mais sairá da sua cabeça. Ele nunca vai embora”, dizia Murray. “E nada foi mais verdade do que isso. Ele está comigo todos os dias”, disse Depp. “Quero dizer, literalmente. Eu ponho minha cabeça no travesseiro e penso nele. Ao acordar de manhã, penso nele”.
Thompson também esteve “presente” durante as filmagens de “Diário de um Jornalista Bêbado”, em 2009. Todas as manhãs, Depp separava uma cadeira e deixava ao seu lado um maço de cigarros Dunhill e uma garrafa de Chivas Regal, com um copo cheio.
“Todo mundo estava lá por Johnny (Depp) e Jonny estava lá por amor àquele homem”, comentou Aaron Eckhart (“Batman – O Cavaleiro das Trevas”), que estrela o filme. “Isso era palpável no set, com seu sacramento diário àquela cadeira de Hunter”. Amber Heard (“Fúria Sobre Rodas”) faz coro. “É um projeto de paixão e isso me fez confiar ainda mais no material. Foi um passeio selvagem”.
Para dirigir a história do jovem jornalista que chega a Porto Rico e encontra uma América Latina invadida pela corrupção do capitalismo americano, Depp convocou Bruce Robinson (“Como Fazer Carreira em Publicidade”), que vivia tranquilo numa fazenda na Inglaterra e não comandava um filme havia 20 anos. Sob a benção do ator/produtor, Robinson elaborou um roteiro que não era extremamente fiel ao livro em seu texto, mas sim ao seu espírito – o diretor calcula que apenas umas duas frases sejam exatamente igual à fonte literária.
Até porque todos sabiam que, com Johnny Depp interpretando seu amigo Hunter S. Thompson, a fidelidade já estava praticamente garantida. “Não há nada mais delicioso do que ver um ator desempenhar um papel no qual ele coloca tudo de si”, comemorou o produtor Graham King, ao Sydney Morning Herald. “Não estou dizendo que ele não faz isso nos outros filmes, mas este era diferente. Não era só um trabalho para ele”.
“Diários de um Jornalista Bêbado” não foi exatamente um sucesso de crítica e acabou praticamente ignorado pelo público americano, mas transformar o filme num sucesso de bilheteria nunca foi o objetivo de Depp, assim como também não era o do autor do livro.
“Johnny é Hunter em muitos aspectos. Hunter propôs fazer algo que ninguém havia feito antes e sinto que Johnny faz isso de diversas formas”, teorizou a belíssima Amber. “Ele está fazendo exatamente o que quer fazer e acho maravilhoso e importante lutar pelos projetos que ele sente terem integridade artística”. Hunter S. Thompson provavelmente brindaria a isso.

via   Pipoca  Moderna

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