quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Johnny Depp me ensinou a gostar de muitas coisas, uma delas foi de Patti Smith.



.
Patti Smith impõe respeito. Da maneira mais delicada. Chega sozinha, de gorro num dia de vento gelado, cabelos caídos na cara, sem pentear, com pouco tempo: “Vamos lá?”
fotos: Simone Delgado
Está gravando o novo disco (o décimo primeiro), dando palestras sobre o livro Just Kids (clique aqui e leia um trecho do livro “Só Garotos”, na tradução para o português) só quase toda noite, fazendo shows, entre eles um no Carnegie Hall pela independência do Tibet, e assim mesmo atendeu ao nosso pedido e veio ao estúdio da Globo em Nova York para gravar o Milênio.
Peço que ela autografe o livro e ao mesmo tempo queremos tirar fotos. Não, uma coisa de cada vez. Ela se dedica inteiramente ao que está fazendo naquele momento. Primeiro autografar (e se alonga em dedicatórias detalhadas), depois a entrevista, depois as fotos. Em cada pequena coisa ela está inteiramente presente e disponível, focada.
Antes de começar dou-lhe um presente, uma edição rara, que achei num sebo, de A Season in Hell, de Rimbaud, bilíngue, ilustrada com fotos deslumbrantes que Robert Mapplethorpe fez para essa edição. Ela tinha o livro mas perdeu em alguma mudança. Fica encantada, mexida.
Começamos a entrevista invocando os grandes espíritos de que vamos falar, lendo Footnote to Howl, o poema de Allen Ginsberg: Santo, santo, santo… Patti gosta de dizer esse texto no palco com sua banda tocando Spell, um rock composto para o poema. Dito assim, a capella, sem a explosão da performance, dá um tom íntimo, sublime e espiritual ao nosso encontro.
Não há como resumir numa entrevista as fulgurâncias de Just Kids, um livro para rir, chorar, delirar, onde o leitor pode reencontrar as emoções de sua própria juventude. Uma história de amor contada com delicadeza.
Vi muitas entrevistas que Patti deu sobre o livro e creio que neste Milênio ela ficou mais perto da essência, da intimidade, que procurou ao recuperar a memória de Robert Mapplethorpe, seu pastorzinho, seu Pã, sua alma irmã, o menino que criou arte de mãos dadas com Deus, cantando com Deus.
A pedido de Patti Smith, a luz usada no estúdio foi mínima, pois ela sofre de fotofobia. Trabalhamos com a luz no limite, com duas cameras muito sensíveis que permitiram isso. Ela ficou grata. “Eu sempre peço pouca luz, mas nunca atendem”, ela disse. “Resultado: eu sempre apareço nas entrevistas de TV apertando os olhos, olhando pra baixo, franzindo o rosto, com cara de maluca”. Neste Milênio, Patti Smith pôde abrir os olhos (de cor violeta) e, frente a frente, nos dar de presente toda a sua doce lucidez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS MIL FACES DE JOHNNY DEPP

JOHNNY DEPP

JOHNNY DEPP



HUMOR DA NAHH

The current mood of nahh at nahh