domingo, 2 de maio de 2010

Para rir e chorar com Bussunda

"Bussunda - A vida do casseta", escrito por Guilherme Fiuza, foi resultado de mais de 80h de entrevistas com mais de 50 pessoas
Rafael Pereira
Tasso Marcelo
PREPARADO
Bussunda, em 1993. Para Fiuza, a expressão de relapso ocultava “um estudioso da política, da cultura, do comportamento”
O escritor Guilherme Fiuza (colunista de ÉPOCA) não imaginou os problemas que teria ao escrever a biografia do humorista Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda, membro mais célebre do grupo Casseta & Planeta, morto em junho de 2006. Tratava-se de uma figura pública, conhecida e amada, e sua imagem era clara na cabeça de quase qualquer brasileiro, fã ou não. “Achei que fosse apenas prazeroso, mas foi uma pedreira”, disse. Bussunda – A vida do casseta (Objetiva, 408 páginas, R$ 49,90) foi resultado de 80 horas de entrevistas gravadas entre 2008 e 2009 com mais de 50 pessoas. O autor impôs-se a missão de escrever o livro em apenas cinco meses. Por acaso, começou justamente na idade em que o personagem principal de seu livro morreu: 43 anos e 11 meses. “Esse ritmo acabou custando meu casamento. Era muito estresse, eu fiquei insuportável”, afirma Fiuza, no apart-hotel em que passou a morar, sozinho, em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
O motivo da “pedreira” foi ter descoberto um homem multifacetado por trás da figura bonachona, ou, como repete sempre o autor, o “palhaço vagabundo”. Autor de Meu nome não é Johnny, sucesso nas livrarias e no cinema, e 3.000 dias no bunker, sobre a equipe que ajudou a combater a inflação no país com o Plano Real, Fiuza se surpreendeu com o personagem que achava conhecer. “A vida dele se desdobra em muitas frentes. O Bussunda político, o familiar, o humorista, o empresário... todos distintos. A vida dele é uma sucessão avassaladora de acontecimentos, e o livro não poderia dar conta disso tudo”, diz.
Foi justamente o que disse Cláudio Manoel, parceiro de Bussunda no Casseta & Planeta, na primeira reunião que fez com Fiuza, na companhia de toda a trupe de humoristas, além da viúva de Bussunda, Angélica, e do irmão dele, o economista Sérgio Besserman Vianna. Cláudio Manoel abriu o encontro com a sentença “A vida dele não cabe em um livro”. Foi em fevereiro de 2007, menos de um ano depois da morte do amigo, do companheiro, do irmão. Apesar de acenos positivos para a possibilidade de contar a história de Bussunda, ninguém ali estava pronto, ainda, para dar depoimentos.
Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda, morreu durante a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Apaixonado por futebol, e em especial pelo Flamengo, quase uma religião em sua vida, estava lá com os colegas de trabalho do Casseta & Planeta para fazer graça com os jogadores. Sua imitação precisa de Ronaldo Nazário, o Fenômeno, herói da Seleção na conquista do pentacampeonato de 2002, era um de seus trunfos. Sentiu-se mal depois de jogar futebol com os amigos, foi dormir cedo e acabou sofrendo um ataque cardíaco fulminante na manhã do dia seguinte. Seu corpo foi velado na sede do Flamengo, e uma multidão atônita de brasileiros anônimos esteve lá para se despedir.
Fiuza encantou-se com a possibilidade de contar a história de Bussunda por causa de um artigo de Sérgio Besserman Vianna, publicado no jornal O Globo menos de um mês depois da morte do irmão. “Sem o Cláudio não poderia haver o Bussunda”, escreveu Sérgio.
Fiuza nunca se encontrou com Bussunda. O único contato entre os dois foi uma entrevista por telefone, quando o escritor ainda era repórter de jornal. A empatia do autor com seu biografado começou com o humor. “Eu era muito fã do Planeta Diário e do Casseta Popular, com os meus 19 anos”, afirma Fiuza, referindo-se às revistas que foram o embrião do grupo Casseta & Planeta – nada mais do que a junção das duas trupes – e do humor politicamente incorreto do grupo. “E eu adorava TV Pirata. Até hoje tenho uma pilha de fitas VHS mofadas do programa, que eu gravava da televisão.” O programa humorístico da TV Globo foi o primeiro passo dos “cassetas” na televisão, ainda como redatores de humor. “Quando TV Pirata entrou no ar, eu fiquei em êxtase. Eu vi a luz (risos). Era, acima de tudo, um humor inteligente. E só durante a pesquisa para o livro eu fui saber que a redação era totalmente dominada pela turma de humoristas do Casseta & Planeta, apesar do time enorme de redatores, gente como Luís Fernando Veríssimo, Pedro Cardoso, Patrícia Travassos, Miguel Falabella, Mauro Rasi...”, diz.
Ele era, de longe, o campeão do grupo no que diz
respeito à renda com campanhas publicitárias
É impossível contar a história de Bussunda sem passar pela dos companheiros de grupo, com o qual sua história tem ligação seminal. Beto Silva, Cláudio Manoel, Hélio de La Peña, Hubert, Marcelo Madureira e Reinaldo não aparecem como coadjuvantes. Têm sua vida contada em detalhe. Como a passagem de Hélio por uma instituição de doentes mentais ou a postura de Hubert de nunca expor sua vida pessoal na hora de se defender das acusações de preconceito contra deficientes físicos, mesmo tendo a mãe tetraplégica em uma cadeira de rodas. Além disso, a história do grupo recebe tratamento especial, das brigas às declarações de amor.
Bussunda era, porém, a imagem dos sete cassetas. Era, de longe, o campeão do grupo no que diz respeito à renda com campanhas publicitárias. “Se fosse qualquer outro, acho que eles teriam ciúme. Como era ele, isso não afetou”, afirma Fiuza. Sua aparência de “caricatura viva”, como definiu o colega Marcelo Madureira ainda na época de colégio, provocava empatia. O corpo redondo, os dentes escapando da boca, o cabelo desgrenhado. Tinha postura desorganizada, de sagacidade intuitiva e nada acadêmica – não chegou a se formar na universidade de comunicação. “Bussunda era um cara altamente preparado, um estudioso. De um jeito anárquico, mas um estudioso, da política, da cultura, do comportamento. Disso resultava aquele humor tão preciso. A piada fácil brotava de um cara preparado”, afirma.
Seus petardos humorísticos brotavam de sua persona em qualquer situação: nos programas de que participava, nas entrevistas que dava. Durante uma conversa com a repórter de uma revista de celebridades, foi perguntado sobre sua cantada infalível. A resposta: “Sempre falo: ‘Durante anos tive problema para encontrar minha verdadeira sexualidade e encontrei. Está aqui embaixo da barriga. Quer ver?’”. Fazer rir com naturalidade tornou-se um fardo em seus últimos anos de vida. “Pouco antes de morrer, ele já estava muito cansado de rirem da cara dele na rua, por exemplo, e estava um pouco distante do público”, afirma Fiuza.

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